lugares
Há aqui na vista da janela um arranha-céu, de uns tempos para cá comecei a estranhar a sobrevivência dessa necessidade de se erguer aos céus, uma herança das catedrais góticas, todo mundo quer falar com deus. Gil o faz a sós, mas no geral o ser humano quer mesmo é a sua magnificência, pois imagem e semelhança só fazem sentido se for para enaltecer a si.
Impossível defender um deus que permite a destruição de Gaza.
Estou em um quarto de hotel, fosse eu uma grande escritora estaria narrando algo do humano com pompa e circunstância, aproveitando essa experiência única de sair de mim, de meu próprio mundo, e buscar lirismo em outras paragens.
Falávamos hoje a respeito de formação de professoras e só posso mesmo pedir desculpas a Paulo Freire, falhamos tão grandemente, minha geração realmente se perdeu pelo caminho, podíamos ter feito bem mais, muito mais, ou pelo menos diferente. Argumentos em nossa defesa tenho todos, mas não há o que justifique nosso fracasso coletivo.
E olha que de fracasso eu entendo, meio século nessa labuta de um devir falha, só me restaram as palavras mesmo, me obrigo a usa-las porque não sei quanto tempo viverão em mim.
Eu já sonhei em viajar o mundo, imagine só.



